Racismo e sofrimento psíquico

Por: Rosa Dias - Psicóloga

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O que é racismo?

“Racismo é uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em vantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo social ao qual pertençam.” (Sílvio Almeida – O que é racismo estrutural)

Como nascer e viver numa sociedade racista pode afetar pessoas negras? 

“No interior das instituições de Educação Infantil, são inúmeras as situações nas quais as crianças negras são alvo de atitudes preconceituosas (…) A discriminação (…) interfere nos seus processos de constituição de identidade, de socialização e de aprendizagem. ” (Orientações e ações das relações étnico-raciais)

“O ideal de Ego daquele que nasce numa sociedade racista é branco.” (Neusa Santos Souza – Tornar-se negro)

“Em outras palavras, o negro não deve ser mais colocado diante desse dilema: branquear ou desaparecer, ele deve poder tomar consciência de uma nova possibilidade de existir.” (Frantz Fanon – Pele negra, máscaras brancas)

Ou seja, numa sociedade racista, a construção da identidade pode sofrer abalos em função das mensagens, claras ou veladas, disfarçadas muitas vezes de racismo recreativo, que desqualificam e agridem a estética, a cultura e a história ancestral das pessoas negras. 

Muitas vezes nestas condições, a (parcial) aceitação da pessoa negra numa sociedade racista vem pelo embranquecimento estético, afetivo, cultural… Uma mutilação existencial, que nunca vai passar incólume. 

Então … basta as pessoas negras fazerem psicoterapia para tratar destas questões – que muit@s psicoterapeut@s nem reconhecem- e está resolvido o problema?

Não! Esta é uma das frentes do enfrentamento ao racismo, mas não é a única, afinal, o racismo não é um “problema dos negros!” 

É muito cômodo responsabilizar grupos que foram vitimados por séculos de violência pela resolução de problemas que foram criados para eles e até hoje se mantêm e os machucam. 

Como os brancos podem se envolver na luta antirracista? Esta deve ser a pergunta. 

Segundo Paul Gilroy, existem mecanismos de defesa com os quais as pessoas brancas precisam lidar para conseguirem reconhecer seus privilégios brancos, São eles:

– Negação: 
Racista é o outro! 

– Culpa: 
Puxa, mas eu não sabia! 

– Vergonha: 
Eu não agi certo! 

– Reconhecimento: 
Sim, eu tenho privilégios por ser branco! 

– Reparação: 
Sendo quem eu sou, como posso lutar contra o racismo? 

O racismo é um problema histórico, sociocultural que incide sobre as individualidades. A perspectiva é essa, para que não se perca de vista que tod@s nós estamos implicad@s nele.


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