
Quíron
Quíron era um centauro, metade homem e metade cavalo, filho do Deus Crono e da ninfa Filira. Abandonado pela mãe, foi entregue pelo pai aos deuses irmãos Apolo e Artemis, que lhe ensinaram sobre as artes, a beleza, os poderes de cura, a vida selvagem e a caça.
Já adulto, Quíron tornou-se um sábio, que conhecia os segredos do corpo e do espírito.
Certo dia, acidentalmente, foi atingido em sua coxa por uma flecha envenenada disparada por seu amigo Hércules.
Como Quíron era imortal, sobreviveu ao veneno, mas a ferida nunca cicatrizou e lhe causava dores terríveis. 6
Ainda assim, ele continuou ajudando os que vinham até ele, socorrendo-os em suas dores quando ele tinha as suas próprias.
Quíron é uma das representações do curador ferido e para muitos simboliza a profissão d@ psicólog@.
O curador ferido
A expressão curador ferido nos remete ao psicólogo Carl Jung. Ele observou este arquétipo nas culturas grega (Quíron), judaico-cristã (Jesus), iorubá (Obaluaê), entre outras.
Jung relacionou este arquétipo ao psicoterapeuta, que vivencia o chamado interno de cuidar das dores alheias porque el@ mesm@ está “ferid@”.
Estas feridas aproximam @ psicoterapeuta d@ cliente e @ convidam a trilhar o caminho da compaixão, da empatia e da ressignificação de suas próprias dores. É nesse “fio da navalha” que trabalha @ psicoterapeuta: se utilizando como material de trabalho, porém atent@ a que suas próprias dores não se misturem com as dores d@ cliente.
Wabi sabi
Para ilustrar, trago uma curiosidade da cultura japonesa – que se relaciona ao conceito de wabi sabi – no sentido de compreendermos o valor das “feridas” d@ psicoterapeuta.
Diz-se que no Japão, objetos quebrados têm suas rachaduras unidas por uma mistura feita com ouro, para destacar o rompimento. A crença é que, se algo já sofreu danos e tem, portanto, uma história, torna-se, por isso, mais bonito e único. 9
“O terapeuta será então a passagem, o apoio ambiental, o heterossuporte necessário a fim de que essa pessoa que busca ajuda desenvolva o autosuporte para o amadurecimento.” (Maria Aparecida Barreto – Situações clínicas em Gestalt-terapia)
@ psicoterapeuta não determina escolhas e caminho para @ cliente justamente por acreditar no potencial realizador dest@.
O que @ psicoterapeuta constrói com @ cliente é uma relação, um vínculo que por si só é terapêutico, feito de aceitação, confirmação e suspensão de julgamentos. Assim, @ cliente toma esta relação como suporte para, encorajad@, iniciar sua travessia interior até o ponto em que sinta que já pode caminhar sozinh@.




