Rosa Maria Noronha Dias

Cobranças e a saúde mental da mulher

2 março, 2025

Numa postagem no Instagram, perguntei para as mulheres qual cobrança social elas sentiam como mais cruel. 

Todas as opções ficaram com percentagens bem próximas. Vou apresentá-las. 

Como mulher, será que você vai se identificar com alguma delas? Como homem, o quanto você colabora com a manutenção dessas opressões? 


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Não poder engordar 


Vale lembrar: 

- Muitas vezes a busca pelo emagrecimento é necessária por questões de saúde e isto realmente precisa ser considerado. Saúde é fundamental, em todos os seus aspectos. 

- Existem corpos gordos saudáveis e corpos magros não-saudáveis. 

Alguns homens justificam assim seus abdomens dilatados: 

- Não é barriga grande! É calo sexual! Já ouviram isso? Conseguem imaginar uma mulher dando a mesma resposta? Como acham que a fala dela seria ouvida pelas pessoas?


Muitas mulheres nunca serão magras por questões genéticas. Por vários fatores, junto com o processo de envelhecimento, vem um aumento de gordura em partes do corpo, em especial no abdômen. Mas isso não é considerado por nossa sociedade e mulheres permanecem gordas sob o peso da crítica, ora sutil, ora direta. 

Mulheres gordas são vistas como preguiçosas, relaxadas, que estão “assim porque querem”. É muito difícil crescer e conviver com desconfirmações permanentes e isto não influenciar na saúde mental destas mulheres. 

Quantas mulheres morrem diariamente na busca de um corpo perfeito! Perfeito para quem? Vocês acham que é por acaso que transtornos alimentares como bulimia e anorexia têm maior incidência entre mulheres?

Não é um processo fácil o de se reconhecer, se aceitar e se amar quando em volta – na família, nas relações afetivas, no trabalho, na mídia – quem você é, é algo que ninguém quer ser. Mas não é impossível. Em especial quando percebemos que muito da nossa dor não diz respeito apenas a nós, mas também fala de uma sociedade doente da qual fazemos parte.


Não poder envelhecer 

Se a velhice faz parte do desenrolar da vida, por que ela é tão desvalorizada? Em especial, por que ela deve ser dissimulada e negada, em especial pelas mulheres? 

Ainda que os homens estejam cedendo mais às pressões estéticas, têm pouca repercussão entre estes os procedimentos e produtos que escondem o passar do tempo. Esconder cabelos grisalhos, rugas e linhas de expressão não é uma preocupação dominante no universo masculino. Ao contrário, atributos como segurança, sucesso profissional, experiência (inclusive sexual) são muitas vezes associados aos homens de meia idade. 10

Enquanto isso, mulheres que deixam os cabelos embranquecerem ainda podem ser vistas como relaxadas; mulheres gastam energia e tempo com procedimentos estéticos que talvez não fizessem se tivessem a certeza de que seriam aceitas como são; mulheres vivem em silêncio e constrangidas a menopausa, como se ela fosse lhes retirar a feminilidade e a potência; mulheres se veem preteridas por outras mulheres mais novas, nos relacionamentos amorosos e/ou no trabalho, e se sentem diminuídas em suas histórias de vida e experiências. 

Nada disso é fortuito. Afinal, mulheres que não podem mais serem capturadas pela maternidade, que têm um repertório afetivo e sexual desenvolvido ao longo dos anos, que podem acrescentar sabedoria aos conhecimentos adquiridos, muito possivelmente são percebidas como perigosas numa sociedade machista e, por isso, precisam ser paradas. 


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Não poder ter "atitudes masculinas" 


A crença historicamente construída de que há características masculinas ou femininas essenciais tem criado armadilhas para homens e mulheres e limitado muitas de nós, na tentativa de cabermos na “forma do feminino”, que nem sempre corresponde a quem somos. 

Até porque, ninguém nasce e morre imutável. Vamos nos transformando, experimentando e escolhendo, numa dança que com frequência passa longe do que nos é apresentado sobre o que é ser mulher ou homem. 12 

Ainda na barriga das nossas mães nos é determinado que meninos vestem azul e meninas vestem rosa. Assim, começamos a introjetar gostos, interesses e desejos que não necessariamente são somos, mas que somos levados a crer que são. E quando de alguma forma nos rebelamos ao script posto? 

O que é uma mulher... prática, objetiva, que gosta de futebol, que se interessa por ciências exatas, que não tem jeito com criança, que transa sem envolvimento afetivo, que não tem paciência, direta, que diz não sem culpa, que toma a dianteira, tem iniciativa, se prioriza, diz o que quer claramente na cama e fora dela, que não faz sacrifícios pela beleza, por exemplo? Ela não é uma mulher? O que é uma mulher? 3

Diante de alguns grupos sociais e de algumas pessoas, é difícil para muitas de nós ser uma mulher com “atitudes masculinas”. A cobrança vem de homens e mesmo de mulheres que, por motivos diversos, podem interpretar a diferença como ameaça. E como nós de modo geral procuramos aprovação, sustentar a diferença às vezes pesa. No entanto, excluída esta opção, o que sobra, nos satisfaz? 


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Ter que ser uma mãe perfeita


A régua que mede uma mãe é a mesma que mede um pai? 

Não. Próxima pergunta. 


Brincadeiras à parte, basta um mínimo de sinceridade para reconhecermos que não há outra resposta para esta questão. Nossa sociedade ainda acredita que todas as mulheres nasceram com o desejo de serem mães, que mais cedo ou mais tarde ele vai se manifestar. Se não se manifesta é porque elas são desviantes, exceções olhadas com suspeição. Egoístas. As mulheres “naturalmente” sabem e desejam cuidar de filhos, crianças, animais e de todo ser vivente que demande cuidados, incluídos aí namorados, maridos e familiares. 

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E ainda que tantas mudanças sociais importantes tenham acontecido nas últimas gerações, ainda que tantas mulheres tenham se aventurado em funções e atividades ditas masculinas, os homens não abraçaram com o mesmo afinco a ideia de cuidar. E nem se espera tanto isso deles. Afinal, eles não têm muito jeito pra isso, não é?... 


Assim, seguem as mulheres nessa dissimetria: foram para o mundo, mas continuam sendo vistas como as maiores responsáveis pela formação dos filhos que não são só delas. 

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Aqui não é o caso de duvidar da capacidade de incontáveis mães amarem e se dedicarem imensamente aos seus filhos. No entanto, se faz necessário pensarmos como é cruel atribuirmos às mães responsabilidades, cobranças e culpas pelas quais não podem responder porque não lhes competem exclusivamente. 


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Por fim...


Afirmo que a exigência de perfectibilidade materna, a recusa em aceitar mulheres com "atitudes masculinas”, que envelhecem, que engordam, são algumas das formas de controle social que incidem sobre as mulheres. Com o objetivo de barrar histórias de vida originais, que inspirem outras e que aos poucos ponham em xeque nossas estruturas de poder. Mas, ainda assim, seguimos, sonhando e lutando por um modo de viver diferente, bom para todo mundo. 

 

Racismo e sofrimento psíquico

2 março, 2025

O que é racismo? 


"Racismo é uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em vantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo social ao qual pertençam." (Sílvio Almeida - O que é racismo estrutural)


Como nascer e viver numa sociedade racista pode afetar pessoas negras? 



"No interior das instituições de Educação Infantil, são inúmeras as situações nas quais as crianças negras são alvo de atitudes preconceituosas (...) A discriminação (...) interfere nos seus processos de constituição de identidade, de socialização e de aprendizagem. " (Orientações e ações das relações étnico-raciais)


"O ideal de Ego daquele que nasce numa sociedade racista é branco." (Neusa Santos Souza - Tornar-se negro)


"Em outras palavras, o negro não deve ser mais colocado diante desse dilema: branquear ou desaparecer, ele deve poder tomar consciência de uma nova possibilidade de existir." (Frantz Fanon - Pele negra, máscaras brancas)


Ou seja, numa sociedade racista, a construção da identidade pode sofrer abalos em função das mensagens, claras ou veladas, disfarçadas muitas vezes de racismo recreativo, que desqualificam e agridem a estética, a cultura e a história ancestral das pessoas negras. 

Muitas vezes nestas condições, a (parcial) aceitação da pessoa negra numa sociedade racista vem pelo embranquecimento estético, afetivo, cultural... Uma mutilação existencial, que nunca vai passar incólume. 

Então ... basta as pessoas negras fazerem psicoterapia para tratar destas questões - que muit@s psicoterapeut@s nem reconhecem- e está resolvido o problema? 10 

Não! Esta é uma das frentes do enfrentamento ao racismo, mas não é a única, afinal, o racismo não é um "problema dos negros!" 

É muito cômodo responsabilizar grupos que foram vitimados por séculos de violência pela resolução de problemas que foram criados para eles e até hoje se mantêm e os machucam. 

Como os brancos podem se envolver na luta antirracista? Esta deve ser a pergunta. 

Segundo Paul Gilroy, existem mecanismos de defesa com os quais as pessoas brancas precisam lidar para conseguirem reconhecer seus privilégios brancos, São eles: 11 

- Negação: 

Racista é o outro! 

- Culpa: 

Puxa, mas eu não sabia! 

- Vergonha: 

Eu não agi certo! 

- Reconhecimento: 

Sim, eu tenho privilégios por ser branco! 

- Reparação: 

Sendo quem eu sou, como posso lutar contra o racismo? 

O racismo é um problema histórico, sociocultural que incide sobre as individualidades. A perspectiva é essa, para que não se perca de vista que tod@s nós estamos implicad@s nele.

 

O poder do como e a liberdade de sentir

2 março, 2025

Sinto, logo existo! 


Tenho pensado muito sobre a liberdade de sentir. É o mínimo que podemos fazer diante das dores da vida. Existem situações sobre as quais temos muito pouco ou nenhum controle. Que desabam sobre nossas cabeças, mudam tudo e precisamos lidar com elas, não tem como fugir. 

As vezes estamos tão desconectad@s de nós mesm@s que apenas recebemos o baque e seguimos no automático, sem perceber como pessoas e situações nos afetam.

Seja morte, adoecimento, falência e até mesmo condições familiares e sociais muito adversas. Ou ainda as pequenas dificuldades do dia-a-dia, que vão minando nossas as forças: um trabalho exaustivo, um relacionamento empobrecido, uma família abusiva... 

E aí o que acontece muitas vezes? O famoso "englobe o choro e faz o que deve ser feito". 


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"Como você se sente..." 


Existe uma pergunta muito simples, mas muito poderosa para abrir diálogos internos: como estou me sentindo? 

Quantas vezes pergunto isso para clientes e me respondem o que fizeram, o que outras pessoas falaram, o que deveriam fazer, mas não conseguem voltar a atenção para si e perceber como se sentem.

Sensações corporais, sentimentos, percepções, tudo fica oculto por baixo de um monte de "deverias", "seca esse choro e vai", "isso é coisa da sua cabeça ", "com todo mundo é assim" e afins. 

Meu convite é justamente a não engolir o choro. Se não tem como evitar a situação, vai lá e dá conta como puder, mas não deixa de sentir. Sentir é sua bússola interna, seu sinal de alerta para perceber o que está ou não nos limites das suas possibilidades. Sinta chorando, falando, reclamando, gritando, como achar melhor. 9

Mas, pelo menos, se dê essa liberdade. Se dê este direito! Já tem muita violência aí, não seja mais um a se violentar. Sinta! Mais à frente, você vai se agradecer! 

Um dos primeiros trabalhos da psicoterapia da qual sou profissional - a Gestalt-terapia - é estabelecer a comunicação d@ cliente com el@ mesm@ através dessa básica e potente pergunta: como você se sente diante disso?

 

Verdades e mentiras sobre psicoterapia

2 março, 2025

Uma sessão de psicoterapia reverbera para além dos 50 minutos

Verdade ou mentira?

Verdade! 


Quando o vínculo se estabelece, se constrói uma relação de confiança e acolhimento, @ cliente "leva @ terapeuta para casa." 

O que é falado em sessão é lembrado, associado a outras situações, provoca sonhos e recordações... 

Como uma pedra jogada no rio que vai criando círculos concêntricos cada vez mais amplos, a sessão de terapia continua a repercutir n@ cliente quando ela termina. 


Terapia cria dependência 

Verdade ou mentira?

Mentira!


Se criar dependência, não é psicoterapia! 

O objetivo do processo terapêutico é que @ cliente viva e faça escolhas de maneira autônoma e seja fiel a si mesm@. 

A psicoterapia ajuda a assenhorar-se de recursos internos nesse sentido. Para que @ cliente possa caminhar sozinh@ e retornar à terapia se e quando achar necessário. 


Terapia ajuda a reconhecer nossas necessidades 

Verdade ou mentira?

Verdade!


Em troca da sobrevivência física e/ou emocional, muitas vezes aprendemos a ser como desejam que sejamos, a abandonar nosso querer para defender o querer d@s outr@s, um querer que assumimos como nosso. 

A psicoterapia de base gestáltica, por exemplo, com perguntas do tipo "como você se sente diante disso?", "o que você quer?",, pode lançar luz sobre verdades tão nossas e, ao mesmo tempo, alienadas de nós mesm@s. 

 

Você pode sentir raiva?

2 março, 2025

Emoção básica 


A raiva é uma das emoções básicas do ser humano. Ou seja, nascemos com a capacidade de sentí-la e sentimos. Podemos reagir a determinadas situações sentindo raiva. 

Não há um consenso entre quantas são as emoções básicas. Alguns pesquisadores apontam cinco, outros apontam seis, outros ainda apontam oito emoções. Mas em todas as listas, a raiva está presente. 6

No entanto, a raiva é uma emoção muito malvista, tal qual a tristeza, outra emoção básica. 

Nossa sociedade, por vezes tão adoecida e adoecedora, nos quer sempre calm@s e alegres... 

Talvez a raiva seja ainda menos aceita que a tristeza, afinal esta parece menos ameaçadora a quem está próximo. 


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Implodir ou explodir? 


Existem situações que nos despertam raiva. Podemos sentir desde uma pequena irritação até um profundo ódio. Podemos entrar em contato com ela e termos consciência de sua dimensão ou alienarmos o que estamos sentindo, como se a raiva não estivesse em nós. Mas está. 

E aí, a raiva vertida para dentro pode adoecer, deprimir, Muitos quadros de doenças psicossomáticas, de depressão têm relação com "raivas" que não puderam ser expressas e ferem por dentro. Elas nos implodem. 8

A raiva vertida para fora de forma abrupta, desorganizada, pode ser destrutiva sim. E aí reside o receio que muit@s têm de expressar sua raiva: perder o controle, machucar e se machucar. Com certeza uma explosão de raiva pode trazer consequências bem ruins. 

Talvez a questão seja não tratar nossa raiva como algo a ser eliminado - tarefa destinada ao fracasso - mas estabelecer um caminho de diálogo conosc@ mesm@s. A raiva é uma parte de nós. 


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Energia para a criação 


Entre engolir sua raiva e adoecer e destruir tudo e tod@s que vê pela frente, há uma distância imensa. Mas algumas pessoas, por desconexão consig@ mesm@s, agem como se só existissem essas duas possibilidades. 

Entre esses dois polos existem a busca da compreensão do que lhe deixou com raiva, de como a raiva se expressa em você, do que você deseja ou não fazer, do que vale a pena manter ou abrir mão para não se ver novamente na mesma situação... Há um trabalho a ser feito, no qual você pode usar a energia que a raiva mobiliza a seu favor. 10

A raiva, quando vertida para o exterior a partir de uma elaboração interna pode romper laços tóxicos, movimentar sonhos negligenciados, revitalizar ideais abandonados, agregar pessoas que sofrem as mesmas violências... 

A raiva bem direcionada pode ser impulso para a criação. 

 

O que é Gestalt-terapia?

2 março, 2025

Origens 


A Gestalt-terapia é uma abordagem psicoterapêutica que foi desenvolvida por Fritz Perls, Laura Perls, Raul Helferline e Paul Goodman na década de 1940. Teve seu grande boom na década de 1960, em pleno movimento de contracultura, na Califórnia. 

A Gestalt-terapia faz parte do campo da psicologia humanista-existencial e se concentra na compreensão do indivíduo como um todo integrado, em permanente troca com o ambiente. 6

Além da influência existencialista , a Gestalt-terapia também recebeu as contribuições da fenomenologia, do psicodrama, da psicoterapia reichiana, e das tradições orientais na construção de seu corpo teórico. 


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Proposta terapêutica


Na Gestalt-terapia, a ideia central é que a experiência humana é percebida e compreendida de forma global e holística, dando importância à consciência do momento presente e à percepção das emoções e pensamentos que emergem na interação com o ambiente. 

O que acontece é justamente d@ cliente buscar a terapia por não conseguir ter consciência (total ou parcial) destas emoções e pensamentos que são provocados a partir da sua relação com o meio externo. 

Não compreendem porque sentem determinadas coisas diante de determinadas pessoas ou situações. Não compreendem como repetem vivências que lhes angustiam. É como se estivessem ceg@s de si, porque perderam em parte a possibilidade de estarem inteir@s no contato consigo e com o ambiente. 


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O experimento


A Gestalt-terapia utiliza diversos recursos psicoterapêuticos para promover a autoconsciência e a mudança, como a dramatização de situações, técnicas de exageração, identificação, imaginação e expressão criativa. 

Utilizamos estes recursos entre muitos outros, como experimentos, ou seja, como algo que possa ampliar a capacidade de percepção d@ cliente sobre si mesm@ e sobre o ambiente no momento da terapia, no aqui-agora da sessão. 


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A relação terapêutica


Na verdade, penso que a linha de atendimento d@ psicoterapeuta faz pouca diferença para @ cliente. Ela é mais importante para @ psicoterapeuta ter um "chão teórico" que @ ajude a caminhar com mais segurança. 

Como também acredito que não exista uma linha de atendimento mais indicada para determinada queixa ou transtorno. 11 

A meu ver, a chave está na relação de confiança que se estabelece entre terapeuta e cliente. Na Gestalt-terapia esta relação é composta por duas pessoas e nela @ psicoterapeuta se coloca como quem acolhe @ cliente em sua inteireza e, ao mesmo tempo, frustra suas formas de se relacionar adoecidas e que pedem por mudança. 

 

Eu faria terapia, mas...

2 março, 2025

"Acho que não adianta" 


Sim, existem maus profissionais, existem clientes que não estão abert@s a iniciar um processo terapêutico, existem parcerias terapeuta-cliente que não dão "liga", existem divergências sobre o que significa "adiantar", existem muitas possibilidades. 

No entanto, penso que uma experiência frustrante de terapia não deve (ou não deveria) servir de base para não lançar mão da psicoterapia quando necessário. 


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"Acho caro" 


Não discordo. 

O cuidado com a saúde mental deveria ser mais acessível à população. Uma pessoa que não está bem emocionalmente trabalha mal, se alimenta mal, tudo fica ruim e isto impacta seu entorno e vice-versa. Saúde mental não é luxo. 

E quando pensamos n@s psicólog@s da iniciativa privada, muitas vezes nos escapam os gastos relacionados à profissão. Mas existem iniciativas de instituições, clínicas, universidades que se propõem a atender por valores simbólicos. Nem sempre a equação oferta-procura é bem equilibrada, mas cabe pesquisar e cobrar iniciativas neste sentido. E quando pensamos nos gastos com terapia como investimento em nós mesm@s? Da mesma forma que investimos na formação acadêmica, no lazer, na boa alimentação, na apresentação pessoal? Investir na saúde mental.


"Tenho medo das possíveis mudanças "


Acho este pensamento muito intrigante. Ele me deixa com a sensação de que esta pessoa sabe que existe algo ali no cantinho que se for olhado com mais atenção vai retirá-la da zona de conforto. E é algo que ela pressente como assustador, ameaçador, que deve ser deixado na escuridão, esquecendo que “os fantasmas” quando levados para o meio da sala e postos em claras palavras perdem muito do seu poder. 

Sim, a terapia está aí para isso. Tornar figura o que já existe, mas está meio disperso num fundo nebuloso. 

Mas saiba que isso só vai acontecer se, como e quando @ cliente quiser e/ou puder. 


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"Não quero pensar pela cabeça d@ psicólog@"


Um@ profissional étic@ sempre vai respeitar os limites e as possibilidades d@ cliente. 

Uma boa relação terapêutica vai ser construída a partir do reconhecimento das identificações e diferenças entre psicolog@ e cliente. 

Quem dá o passo, o roteiro da caminhada é @ cliente. @ psicolog@ vai caminhando ao lado, nem à frente nem atrás, buscando indicar detalhes que sozinh@ @ cliente não conseguia ver. 

O que fará (ou não) a partir das novas descobertas e percepções, de um caminho que é todo seu, é da escolha d@ cliente.

 

O que é psicoterapia?

2 março, 2025

"Psicoterapia é uma forma 

de autoconhecimento " 


O autoconhecimento pode vir através de práticas meditativas, de experiências religiosas, da superação de vivências desafiadoras... e da psicoterapia. 

O que a diferencia destas outras práticas? 

Segundo a gestalt-terapia, o foco principal é a relação dialógica entre cliente e terapeuta. 6

Nessa relação se atualizam fantasias, necessidades, expectativas d@ cliente e @ psicoterapeuta favorece a tomada de consciência destas. 

Consciente do que há de genuíno em si, em contato consigo mesm@ a partir da relação construída com @ terapeuta, mudanças podem vir, em diversos níveis. 


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"A psicoterapia ajuda a perceber o que nem sempre conseguimos perceber sozinh@s" 


O objetivo terapêutico da gestalt terapia é favorecer a awareness d@ cliente. 

Este conceito pode ser traduzido como consciência. 

Tornar @ cliente consciente de seus processos psicológicos internos. Consciente daquilo que evita, consciente do móvel de suas escolhas, consciente de suas "situações inacabadas " que pedem um fechamento mais saudável. 

@ gestalt-terapeuta vai lançar mão de técnicas para auxiliar @ cliente a entrar em contato consigo mesm@. Muitas vezes são intervenções simples, como, por exemplo, pedir que ao se referir a si mesm@, não diga você, nós, a pessoa, a gente... 

Simplesmente diga eu. Isto favorece o contato d@ cliente consigo mesm@ através da palavra. Parece pouco, não é? Mas faz diferença! 


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"A psicoterapia não muda o mundo, mas pode ajudar você a lidar de outra forma com ele" 


Muitas pessoas evitam buscar psicoterapia porque não veem como ela vai agir em suas vidas. 


"@ psicólog@ vai depositar dinheiro na minha conta?" 


"@ psicólog@ vaifazer meu marido parar de beber?"


"O problema não sou eu, o problema é como @s outr@s me tratam!"


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Realmente, nenhum de nós pode responder pelas escolhas e mudanças alheias. 

Mas podemos lidar com elas de outra forma. Mudamos nós e essa mudança pode se refletir na qualidade da relação que temos com @s outr@s e com o mundo. 

Como você lida com seu dinheiro? 

Qual sua postura diante do vício do seu marido? 

Que situações se repetem na sua vida? 

Essas são algumas perguntas que @ psicoterapeuta pode fazer no sentido de responsabilizar, implicar você - que é diferente de culpabilizar - por suas escolhas e lhe permitir entrar em contato com outros caminhos possíveis.

 

Quem é o psicoterapeuta?

2 março, 2025

Quíron 


Quíron era um centauro, metade homem e metade cavalo, filho do Deus Crono e da ninfa Filira. Abandonado pela mãe, foi entregue pelo pai aos deuses irmãos Apolo e Artemis, que lhe ensinaram sobre as artes, a beleza, os poderes de cura, a vida selvagem e a caça. 

Já adulto, Quíron tornou-se um sábio, que conhecia os segredos do corpo e do espírito. 

Certo dia, acidentalmente, foi atingido em sua coxa por uma flecha envenenada disparada por seu amigo Hércules. 

Como Quíron era imortal, sobreviveu ao veneno, mas a ferida nunca cicatrizou e lhe causava dores terríveis. 6

Ainda assim, ele continuou ajudando os que vinham até ele, socorrendo-os em suas dores quando ele tinha as suas próprias. 

Quíron é uma das representações do curador ferido e para muitos simboliza a profissão d@ psicólog@. 


O curador ferido 

A expressão curador ferido nos remete ao psicólogo Carl Jung. Ele observou este arquétipo nas culturas grega (Quíron), judaico-cristã (Jesus), iorubá (Obaluaê), entre outras. 

Jung relacionou este arquétipo ao psicoterapeuta, que vivencia o chamado interno de cuidar das dores alheias porque el@ mesm@ está "ferid@". 

Estas feridas aproximam @ psicoterapeuta d@ cliente e @ convidam a trilhar o caminho da compaixão, da empatia e da ressignificação de suas próprias dores. É nesse "fio da navalha" que trabalha @ psicoterapeuta: se utilizando como material de trabalho, porém atent@ a que suas próprias dores não se misturem com as dores d@ cliente. 


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Wabi sabi


Para ilustrar, trago uma curiosidade da cultura japonesa - que se relaciona ao conceito de wabi sabi - no sentido de compreendermos o valor das "feridas" d@ psicoterapeuta. 

Diz-se que no Japão, objetos quebrados têm suas rachaduras unidas por uma mistura feita com ouro, para destacar o rompimento. A crença é que, se algo já sofreu danos e tem, portanto, uma história, torna-se, por isso, mais bonito e único.

"O terapeuta será então a passagem, o apoio ambiental, o heterossuporte necessário a fim de que essa pessoa que busca ajuda desenvolva o autosuporte para o amadurecimento." (Maria Aparecida Barreto - Situações clínicas em Gestalt-terapia)

@ psicoterapeuta não determina escolhas e caminho para @ cliente justamente por acreditar no potencial realizador dest@. 

O que @ psicoterapeuta constrói com @ cliente é uma relação, um vínculo que por si só é terapêutico, feito de aceitação, confirmação e suspensão de julgamentos. Assim, @ cliente toma esta relação como suporte para, encorajad@, iniciar sua travessia interior até o ponto em que sinta que já pode caminhar sozinh@. 

 

Frases de quem não sabe o que é psicoterapia

2 março, 2025

"Terapia é coisa de maluco" 


Sim, pessoas com transtornos psicológicos graves podem se beneficiar de psicoterapia. 

Mas, quem não tem diagnóstico psiquiátrico, quem está sofrendo com um conflito existencial e quem busca autoconhecimento também. 

E "coisa de maluco " é uma das formas de expressar desconhecimento generalizado sobre saúde mental. 


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"Terapia é coisa de gente fraca"


Psicoterapia é um processo que demanda capacidade de introspecção, persistência... e coragem. 

Enquanto clientes, som@s convidad@s a olhar com mais atenção para partes nossas que não nos enchem de orgulho, que nos assustam. Gastamos boa parte de nosso tempo e energia evitando contato com elas. 

Somos convidad@s a nos responsabilizar por nossas escolhas e desejos e isso nem sempre é fácil. Psicoterapia é uma jornada que fazemos rumo ao desconhecido, na companhia atenta e solícita d@ terapeuta. 


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"Terapia é pra gente rica" 


Em nosso mundo, tudo tem um preço. No valor financeiro de uma sessão de psicoterapia, muitos fatores entram em jogo para @ profissional determinar seus honorários. 

Aluguel ou sublocação do espaço de atendimento, gastos de internet, gastos com materiais diversos, supervisão, cursos de aperfeiçoamento, entre outros. 

No entanto, mesmo reconhecendo a justeza d@ profissional poder determinar seus honorários, nem sempre eles são acessíveis à boa parte da população. Por isso, existem os atendimentos sociais, normalmente realizados em universidades ou por coletivos e instituições que buscam atender pessoas de baixa renda financeira. Além da rede pública. Não, não é "coisa de rico" buscar psicoterapia para lidar com o sofrimento psíquico. É priorizar a saúde. É direito de tod@s. 


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"Não preciso de terapia, tenho a minha fé " 


Psicoterapia e espiritualidade não são ideias conflitantes. Ao contrário, várias escolas da Psicologia abordam a importância da religião para a experiência humana. 

Entre elas podemos destacar a Psicologia Transpessoal de Abraham Maslow e a Psicologia Analítica de Carl Jung. 

É uma compreensão equivocada acreditar que a pessoa religiosa prescinde de, em algum momento de sua vida, buscar psicoterapia. 10

Quando você é acometid@ de uma doença, deixa de ir ao médico porque tem religião? 

Se você tem uma doença crônica que exige cuidados e medicação constantes, deixa de tomar remédios porque tem uma religião?Alguns acreditam que a psicoterapia conduz a "soluções mundanas" que nos "afastam de Deus". 

A psicoterapia nos convida a mergulhar no que é verdadeiro em nós. Se nossos valores espirituais forem realmente genuínos, eles permanecerão.